23/09/13

História de um Cavalo Triste

Este cavalo já foi grande. As luzes da ribalta centravam-se no seu porte majestoso, no seu cavalgar imperial e no seu trotar em compasso com as músicas de grandes clássicos, desde Schubert a Chopin. Fazia as delícias da garotada com a sua pelagem bem tratada. A sua crina enfeitada fazia-o inchar de orgulho. Era um esbelto e belo cavalo.

Os anos foram passando, as luzes foram-se apagando e ele foi envelhecendo. Já não era o que tinha sido. Mas mantinha a postura, orgulhoso de si mesmo pelo que fora, pelas pessoas que tinha deixado felizes e pelo percurso da sua vida.

Um dia, venderam-no e passou a puxar carroças. Enquanto nos seus tempos áureos o chicote de quem o tinha simbolizava um gesto nunca cometido, agora um outro chicote fustigava-o para ser mais presto no andar.

Aproximei-me deste cavalo. Magro, com as costelas à mostra, tentava comer a erva que despontava naquele terreno junto a um ribeiro de água pouco recomendável. Não havia feno que lhe enchesse o corpo, que lhe cobrisse os ossos, que lhe desse a dignidade nunca perdida, mas esmorecida pela triste vida que levava. De um jovem garboso, restava um velho não acarinhado. Só lhe restava esperar pelo fim da vida.

Deixou-me chegar ao pé dele. Virou a cabeça para mim e olhámo-nos nos olhos. Contemplámo-nos por instantes e pensei ver uma lágrima a escorrer-lhe pelo rosto.

𝗔 𝗺𝗼𝗿𝗮𝗹 𝗱𝗮 𝗵𝗶𝘀𝘁ó𝗿𝗶𝗮: a vida é imprevisível e pode mudar drasticamente num ápice. O cavalo, que já foi um símbolo de beleza e majestade, acabou sendo vendido e forçado a puxar carroças. A história nos ensina a valorizar o presente e a não subestimar as coisas que temos, pois elas podem ser perdidas a qualquer momento. Além disso, a história nos lembra que a vida é preciosa e que devemos tratar todos os seres vivos com respeito e compaixão.

12/09/13

"História de uma Borboleta"

Ontem tinha-a visto. Ficámos pelas intenções e marcámos um novo encontro para hoje. Subo ao pinhal. As cigarras fazem o barulho característico de um dia quente de verão. Da borboleta nada. Talvez se tivesse esquecido do encontro marcado.

Sigo em frente, tentando reparar se alguma das que esvoaçavam à minha volta era ela. De repente olho e ali a vejo, olhando para mim. Sento-me a seu lado e estendo-lhe o dedo. De início pousou uma patinha com receio. Depois outra e mais outra e ficou ali comigo durante um tempo, olhando o horizonte. Pousei-a de novo e segui para descarregar as emoções daquele momento. Nunca tinha tido uma borboleta tão perto.

Aqui e ali, libélulas iam pousando de haste em haste. Regressei ao local do encontro. Ela ainda ali estava. Pousou perto de mim. Voltei a pegar nela e aproximei-a como a querer-lhe dar um beijo fugidio. E, por outros breves momentos, ali ficámos, olhando a floresta que nos fitava, abençoando esta união entre mim e a natureza.

Saí dali ciente de que estava bem comigo e, estando bem comigo, estava de bem com o mundo!

10/09/13

"História de um Amor de Verão"

Ele deambulava ao acaso no areal daquelas dunas. Aqui e ali ia parando, procurando um cheiro que lhe despertasse o sentimento, que lhe trouxesse a razão do bater do coração, a sensação do prazer, a sensação do amor.

Seguia o seu curso sem nada lhe mexer com a alma, sem sentir o frenesim do corpo, sem nada que lhe atrapalhasse o passo.

Sentiu-se levitar. Algo pegara nele e o levara pelo ar, sentindo a maresia que ali lhe chegava, vinda daquelas águas que se viam ao longe. Para onde lhe levaria esse “voar”, ele que estava habituado a sentir o formigueiro da areia, de ver os rastos deixados por outros que antes por ali tinham passado, ia ele voando sem dar às asas. Eis que pousou e viu-a. Num preto brilhante, ela ali estava.

Não esperou mais que um breve momento para sentir aquele corpo debaixo do seu e possuí-la naquela duna. Colou o seu corpo ao dela. Estremeceu como se todo o seu ser se resumisse a essa paixão. De repente sentiu que ela enfiava a cabeça na areia e o fazia escorregar. Tentou um equilíbrio para continuar o jogo do amor. Mas nada havia a fazer, ela esquecera-se rapidamente do bom momento passado. Terminara o seu ciclo. Estava na hora de partir. Tinha acabado o seu tempo, o tempo tinha acabado.

Olhou pela última vez o corpo roliço, deu meia-volta e seguiu o seu caminho. Era o fim daquele longo amor de verão!

Outros verões virão!