08/04/10

Beijo Roubado




Eles eram duas crianças. Cresciam e brincavam na inocência da idade. Ela e ele, ambos de cabelo loiro, corriam pelas vielas, saltavam os muros e iam juntos para a escola. Um dia, ele estava distraído no corredor da casa que partilhavam, quando ela passou, parou, deu-lhe um beijo e saiu a correr. Ele ficou surpreso e sem reação com aquele beijo roubado, pensando que algo não estava bem, que não fazia sentido aquilo que tinha acontecido. Aquilo era coisa de adultos e não de crianças como eles.

Subiu ao andar de cima e entrou no quarto. Deitou-se pensando que estava só. Mas ela também lá estava. Ouviram-se vozes em baixo de quem os procurava, esconderam-se debaixo da cama e ali ficaram. As mãos tocaram-se, os corpos uniram-se mas sem outro contacto que não fosse o sentir da pele, pois ainda não havia neles mais nada do que isso. Eram ainda puros os sentimentos. As vozes estavam cada vez mais perto e eis que a colcha da cama que os escondia se levantou e uma cabeça espreitou. Mesmo sendo crianças, toda a nudez era castigada.

Ele partiu tempos depois e foi sonhando com ela. Anos passados voltaram a encontrar-se, ela ainda tinha os cabelos loiros e filhos. Ele não lhe falou sobre esse beijo roubado de quando eram crianças, o tempo devia ter-lhe apagado da memória esse momento. Com um beijo na face, ele disse-lhe adeus e não mais voltou a vê-la.