27/02/09

O Olhar!...



Eles entregam-se totalmente quando fazem amor. Para eles, o momento é de paixão. Não há lençóis a cobrir os corpos. Amor sem limites ou fronteiras, o amor pelo amor!

Depois da paixão consumada, ela aconchega-se nos seus braços enquanto um torpor lhe percorre o corpo e um pequeno tremor indica que o sono chegou. Vai-se a embalar no adormecer, onde não há nuvens negras a ocultar o azul do céu. Ele fica imóvel contemplando o rosto daquela mulher que o amava.

Enquanto ela dormia nos seus braços, lembra-se do dia em que a conheceu. Saído de um casamento desfeito, pensava que nunca mais se iria envolver com alguém. Tantos anos de dedicação para nada. O relacionamento já se deteriorava com o tempo, mas ele não se apercebera disso. Para ele, tudo estava bem, pois nunca ouvira nada que indicasse que o casamento já não existia e que tudo se resumia a breves monossílabos trocados.

De repente, encontrou-se só. Durante uns tempos, custou-lhe a adaptar-se à nova realidade. Já não havia ninguém para partilhar a cama, para breves palavras mesmo monossilábicas, sentir a presença fugaz de quem partilhava o mesmo espaço que ele…

… E foi-se habituando. O tempo é o melhor remédio para as feridas do coração e aprendeu a viver sozinho.

Ele corria por trilhos, por locais que raramente o fazia. Era longe de casa, mas naquele dia apeteceu-lhe ir e foi. Eram mais uns quilómetros, mas valia a pena. O silêncio era perturbado aqui e ali pelo piar dos pássaros. Borboletas esvoaçavam, mas poucas. O outono chegava. De repente, vê um vulto abaixado agarrado ao pé. Ele aproxima-se. Era uma mulher que torcera o pé num dos buracos existentes. Como já lhe tinha acontecido muitas vezes, ele verifica que a lesão não é grave e uns dias de gelo resolvem a questão. Ajuda-a a ir até ao carro, mas ela verifica que não está em condições de conduzir. Ele apresta-se a fazê-lo, pois ela não morava longe e sempre fazia a corrida de retorno a casa, a correr.

Foram a conversar pelo caminho e ele verifica que ela tinha passado pelo mesmo que ele. Um casamento desfeito, com filhos, e aprendera a viver só para eles. Chegada a casa, ela agradeceu a ajuda. Trocaram os números de telemóvel, pois ele queria saber das melhoras dela.

Voltaram-se a encontrar semanas depois à mesa de um café. Ela estava com a lesão curada e voltara a correr devagarinho. Falaram da paixão que os unia, o desporto. Ele olhou para ela, segurou-lhe a mão e nunca mais se largaram.

Olha de novo para o corpo adormecido! A mão repousava sobre o seu peito. Uma música suave envolve-o e, olhando-lhe, diz-lhe sussurrando ao ouvido: - Amo-te, meu Amor!