05/11/09

No Escurinho do Cinema


Entro no cinema ainda as luzes estavam acesas. Procuro o meu lugar e os meus olhos pousaram em ti. Tua pele morena contrastava com a palidez do resto das raparigas que contigo estavam. Teu olhar fixou-se no meu quando caminhava pela fila que me colocou a teu lado.

No palco, a cortina grossa que tapava o ecrã, foi-se abrindo enquanto o sonoro anunciava o início do filme.

Os mais atrasados precipitavam-se em direcção a seus lugares. Olhei-te de soslaio. Os teus olhos olhavam a tela, as primeiras imagens eram projectadas na cortina que continuava a abrir lentamente. A luz ia diminuindo de intensidade, ficando as luzes de emergência acesas ainda que mortiças. A escuridão era quase completa. O filme começou, as pessoas iam-se calando depois de muitos “shiuuuu” da assistência.

Senti a tua perna a encostar-se à minha. Pensava que, porventura, tivesse sido um pequeno descuido teu. Mas insistias, comecei a sentir-me desconfortável sem saber o que fazer.

A tua mão deslocou-se através do apoio, deixaste-a cair sobre a tua saia e devagar foste-a colocando sobre a minha. Eu suava, as emoções foram-se apoderando de mim. O desconforto subia à medida que me puxavas a mão e a colocavas na tua perna.

A minha mão subiu, a tua saia, curtíssima, não impedia coisa nenhuma. Os meus dedos entraram na tua cuequinha e sentiram a humidade do teu sexo. Enquanto o filme decorria, senti o teu arfar, lentamente fui acariciando o teu pontinho sensível. Tive receio que as tuas colegas se apercebessem do que se estava a passar, mas tu sossegaste-me com os olhos brilhando no escurinho do cinema.

Depois senti em ti o relaxar, tinhas conseguido o orgasmo. Devagar fui retirando a mão. Ajeitaste a saia, a tua mão deslizou pelas minhas calças e…

As luzes acenderam-se, levantei-me e saí. Não me lembro, até hoje, que filme estava a decorrer no ecrã!

27/07/09

A Cama Partida


De mão dada abriram a porta do quarto. Na semi-obscuridade, iluminada por uma luz ténue de uma lamparina, ele foi-lhe retirando a roupa enquanto suavemente a deitava na cama. Os olhos dela brilhavam de prazer. Os dedos percorriam aquele corpo maduro de mulher, procurando nele os pontos erógenos para que ambos tivessem o clímax na mesma altura, que o prazer dela fosse o seu.

O corpo contorcia-se a cada toque, sons voluptuosos saíam da sua boca enquanto o peito arfava procurando juntar os seus mamilos ao dele num roçar sensual. As pernas cruzavam-se, apertavam-se como tenazes para que o momento de contacto se prolongasse para além do tempo.

A excitação subia conforme o prazer aumentava. Aquela cama rangia a cada nova entrega, ela, por cima dele, procurava o ritmo adequado para sentir o sexo penetrar-lhe, procurando a melhor posição para que o orgasmo fosse total.

O movimento era frenético, o clímax aproximava-se, nessa altura, a cama, junto aos pés partiu-se, os apoios não aguentaram e tinham quebrado. Mas, naquele instante, enquanto a cama abatia, ele ejaculou como nunca o tinha feito. Ela olhou para aqueles olhos, para aquele pequeno sorriso que se lhe aflorou aos lábios, para aquele rosto e viu nele todas as estrelas do céu.

A cama era testemunha que podia ter-se partido tudo que nada teria retirado o prazer do momento. E ambos, por algum tempo, continuaram abraçados naquela cama partida com os pés apoiados no chão.

14/05/09

Verdes São os Campos!...

Márcia Moscado

Pela janela, à minha frente, vejo o campo verdejante. No horizonte, nuvens espessas anunciam a chuva que se aproxima.

Sinto-me melancólico. Olho pela janela e, de olhos fechados, volto a uma casa, a minha casa, a casa onde nasci!

«Não podes lembrar-te da casa onde nasceste» - dizia a minha Mãe - «eras muito pequeno quando de lá saímos, tinhas dois anos… E nunca mais lá voltámos!»

Mãe, a casa era assim! – descrevia eu. Um corredor, com os quartos ao lado, a cozinha no fundo, onde também costuravas, e uma janela, uma janela que dava para o campo. Com a mão no queixo e o cotovelo na janela, passava horas a contemplar o verde daquele campo.

Provavelmente naquela idade ainda não sonhava! Admirava talvez o verde que se estendia até encontrar o azul do céu. Ou as nuvens espessas que se formavam como hoje… e a chuva caía, caía ora suave ora forte. O céu era rasgado pelos raios, como se uma criança pegasse num lápis e começasse a riscar sem sentido. Talvez fosse eu essa criança e usasse esse lápis. Em pinceladas, pintava aquelas nuvens mais escuras, iluminadas aqui e ali por relâmpagos,…

…E o verde do campo ficava mais vivo. Gotas brilhavam nas suas hastes erguidas para o céu.

Talvez sonhasse com um futuro belo para todos os meninos como eu. O meu cabelo era loiro como as espigas de milho. Eu era a natureza, a natureza era eu!

Hoje sou um vestígio daquilo que era, mas olho pela janela e continuo a ser o que sempre fui… Um Sonhador!

27/02/09

O Olhar!...



Eles entregam-se totalmente quando fazem amor. Para eles, o momento é de paixão. Não há lençóis a cobrir os corpos. Amor sem limites ou fronteiras, o amor pelo amor!

Depois da paixão consumada, ela aconchega-se nos seus braços enquanto um torpor lhe percorre o corpo e um pequeno tremor indica que o sono chegou. Vai-se a embalar no adormecer, onde não há nuvens negras a ocultar o azul do céu. Ele fica imóvel contemplando o rosto daquela mulher que o amava.

Enquanto ela dormia nos seus braços, lembra-se do dia em que a conheceu. Saído de um casamento desfeito, pensava que nunca mais se iria envolver com alguém. Tantos anos de dedicação para nada. O relacionamento já se deteriorava com o tempo, mas ele não se apercebera disso. Para ele, tudo estava bem, pois nunca ouvira nada que indicasse que o casamento já não existia e que tudo se resumia a breves monossílabos trocados.

De repente, encontrou-se só. Durante uns tempos, custou-lhe a adaptar-se à nova realidade. Já não havia ninguém para partilhar a cama, para breves palavras mesmo monossilábicas, sentir a presença fugaz de quem partilhava o mesmo espaço que ele…

… E foi-se habituando. O tempo é o melhor remédio para as feridas do coração e aprendeu a viver sozinho.

Ele corria por trilhos, por locais que raramente o fazia. Era longe de casa, mas naquele dia apeteceu-lhe ir e foi. Eram mais uns quilómetros, mas valia a pena. O silêncio era perturbado aqui e ali pelo piar dos pássaros. Borboletas esvoaçavam, mas poucas. O outono chegava. De repente, vê um vulto abaixado agarrado ao pé. Ele aproxima-se. Era uma mulher que torcera o pé num dos buracos existentes. Como já lhe tinha acontecido muitas vezes, ele verifica que a lesão não é grave e uns dias de gelo resolvem a questão. Ajuda-a a ir até ao carro, mas ela verifica que não está em condições de conduzir. Ele apresta-se a fazê-lo, pois ela não morava longe e sempre fazia a corrida de retorno a casa, a correr.

Foram a conversar pelo caminho e ele verifica que ela tinha passado pelo mesmo que ele. Um casamento desfeito, com filhos, e aprendera a viver só para eles. Chegada a casa, ela agradeceu a ajuda. Trocaram os números de telemóvel, pois ele queria saber das melhoras dela.

Voltaram-se a encontrar semanas depois à mesa de um café. Ela estava com a lesão curada e voltara a correr devagarinho. Falaram da paixão que os unia, o desporto. Ele olhou para ela, segurou-lhe a mão e nunca mais se largaram.

Olha de novo para o corpo adormecido! A mão repousava sobre o seu peito. Uma música suave envolve-o e, olhando-lhe, diz-lhe sussurrando ao ouvido: - Amo-te, meu Amor!